Memórias acumuladas

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Miquel Barceló [site]


Montanhas de tralha produzida ao longo de milénios. São o grande armazém de memórias acumuladas. Nada da sua grandiosidade passada sobreviveu ao tempo dos homens, o único tempo porque sem homens não há tempo. As memórias são peças de um puzzle com várias soluções, múltiplos métodos de colocar as peças com resultados diferentes. É esta ilusão que já mal aguentamos. É um fardo pesado e inútil. O hábito, o ritmo biológico, o sim ou o não decididos milhares de vezes num dia – é este o mecanismo básico produtivo de memória reproduzida pela vida.

Até a nossa consciência não passa disso. Séries de repetições a diferentes ritmos impossíveis de contabilizar. Podemos separar partes dessas séries mas perdemos sempre o todo. A parte separada do todo é outra coisa. Talvez seja isto a que chamamos conhecimento. A nossa concentração consciente aponta para o pormenor, para o detalhe, para a parte, para os variados fenómenos parciais a que reagimos, atentos. Ora durante milénios fomos guardando estes fenómenos isolados em conjuntos, em conjuntos de conjuntos, etc. Esta organização é apenas operativa, aditiva ou subtractiva, nunca nos dará o todo ubíquo, uma velharia estimável apenas.

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